Modificação corporal é toda transformação feita por motivos culturais, espirituais ou estéticos. Ela pode ser realizada a partir das seguintes técnicas: escarificação, que são tatuagens feitas com cortes, aplicação de ferro quente na pele, conhecida como branding, bifurcação da língua, implantes subcutâneos de jóias, ossos ou silicone e implantes trasdermais, processo em que metade do objeto fica exposta e a outra parte fica dentro da pele.
Há também diferentes tipos de body piercing, que não chegam a ser considerados transformações porque os objetos são facilmente retirados. Os clientes podem colocar piercings com as pontas para fora da pele e a haste dentro, o chamado pocket, podem optar pelo surface, processo oposto ao pocket, semelhante a uma "trave ao contrário", ou então podem fazer a suspensão corporal, técnica que consiste em levantar pessoas por meio de ganchos a partir de várias partes do corpo, como barriga, costas e joelhos.
O clínico geral Sérgio Alvim explica que o branding, a escarificação e os implantes modificam o corpo de uma forma não natural e podem causar lesões. "Pessoas que se submetem a essas técnicas estão sujeitas a apresentar infecções de pele e repercussão sistêmica grave". Segundo o médico, também é comum ocorrer reações alérgicas, transmissão de HIV, de hepatites B e C ou tétano. Além disso, ele diz que as marcas decorrentes das modificações são difíceis de serem tiradas, mesmo com cirurgia plástica.
De acordo com o clínico, os que querem fazer modificações devem procurar profissionais qualificados em locais onde há um controle sanitário adequado. Os que desejam retirar alguma transformação devem procurar dermatologistas ou cirurgiões plásticos.
Conhecido como Taurus Cannibal, Patrick Alves, 19 anos, é body piercing e modificador há menos de um ano. O jovem faz branding, escarificação, pocketing e outros tipos de perfurações. Patrick aprendeu o trabalho com um modificador em Marabá (PA) e hoje atende os clientes em uma sala na própria casa, em Planaltina (DF). Mesmo com 13 piercings e uma tatuagem que ocupa toda a perna, ele pretende fazer uma escarificação em seu corpo e dar aulas sobre a técnica.
Patrick utiliza o bisturi para fazer escarificaçãoSegundo Taurus Cannibal, a escarificação é a modificação mais procurada. Os cortes são feitos com bisturis e variam de 1mm a 5 mm. A cicatrização pode demorar de quatro a seis semanas, dependendo da quantidade de pele retirada. Patrick diz que certos cuidados devem ser tomados, como se alimentar bem para evitar desmaios durante os procedimentos, tomar antiinflamatórios e lavar o local com sabonete anti-bacteriano. "A intenção é deixar a escarificação inflamar, quanto mais inflamada melhor, pois assim surgem os quelóides no formato do desenho", diz Patrick.
O modificador conta que o branding é realizado com ferro de solda. "O desenho é feito e depois passamos a solda no local para queimar a pele", diz. Patrick foi responsável por fazer uma escarificação no braço do adolescente Jonas Martins, 18 anos, com formato de escorpião. Jonas decidiu fazer o desenho devido a seu signo. "Não doeu nada, tanto é que quero fazer mais uma, talvez um dragão".
O body piercer Glauber Andréas, 23 anos, faz desde perfurações simples às mais radicais. De acordo com ele, a procura é maior por pessoas entre 19 e 28 anos. "Aqui vem gente de todo tipo, não existe tribo específica quando o assunto é piercing, porém os roqueiros são maioria na hora de experimentar técnicas diferentes como pocket, suspensão e surface". Esse tipo de trabalho é feito sem anestesia, pois só os médicos têm permissão para utilizar o recurso.
Glauber tem alargadores nas duas orelhas que ultrapassam os 12mm, ou seja, caso ele se arrependa e queira fechar os buracos, só com cirurgia. Em relação à suspensão corporal, ele diz que os furos são feitos em pontos de pressão do corpo, localizados nos joelhos, nas costas e no tronco. Por esse motivo, as pessoas não sentem dor ao serem levantadas.
O Corset é mais um exemplo de body piercing. São vários piercings tamporários em forma de argola, que podem ser colocados em diversas partes do corpo e são transpassados por uma fita. A estudante Thais Rodrigues, 20 anos, fez um corset na costas. "O movimento das costas expulsa as argolas, o meu durou quinze dias, mas fiquei chateada por ter que tirá-lo, sempre gostei de piercings e fazer um corset era uma vontade antiga", diz Thais.
Para a jovem, a discriminação com quem muda algo na estética corporal é freqüente. "Os olhares são tortos, as pessoas questionam a nossa credibilidade, não faz parte da realidade dos outros conviver com alguém que tenha vários piercings, parece que fora do meio alternativo sou um monstro", reclama Thais. De acordo com a estudante, a experiência foi incrível, demorada, delicada e exigiu muita força de vontade para agüentar a dor. "Gostaria de fazer mais corsets em outras partes do corpo, porém vou ter que recuperar toda a minha coragem para isso".
Artigo em dominio público.
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